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Especial: Blumenau - 6ª etapa do Catarinense de Motocross
Vitória do esporte e do bom senso na reabertura do Motódromo Voss
Texto e fotos: Gerson Coas - Reportagem FCM |

Vista parcial da pista |

Milton "Chumbinho" Becker, cat. 125cc |
Questões ambientais
envolvendo as motocicletas já são alvo de muito debate e providências,
tanto na Europa como nos Estados Unidos. E nos EUA é a Califórnia o estado
que lidera o ranking de legislação mais rígida em relação ao meio-ambiente,
com restrições bastante acentuadas à emissão de gases poluentes, ruídos
e por conseqüência a utilização de motores dois tempos, sobretudo em competições
que não utilizam circuito fechados, como as provas de enduro e rali. No
caso do motocross as regras estão mais brandas. Mesmo assim as fábricas
estão priorizando o desenvolvimento dos seus modelos capazes de se adequarem
às futuras regras. As marcas européias como KTM, Husqvarna, Gas-Gas, Husaberg,
dentre outras, já vem de longa data trabalhando com as quatro-tempos.
Mas foi após o lançamento da Yamaha YZ 400 F, em 1998, e a conquista dos
títulos do Americano de Motocross com Doug Henry naquele ano, e do campeonato
Mundial e do Motocross das Nações em 1999 pelas mãos do italiano Andréa
Bartolini que ficou provado o futuro promissor das motos 4T. Há poucos
dias o mineiro Jorge Balbi Jr. venceu por antecipação o Brasileiro de
Motocross 2003 na classe 250cc com uma Honda 450cc 4T. Para 2004 o cerco
das quatro grandes japoneses estará fechado As 4T para a classe 250cc
da Suzuki, Kawasaki e Honda já estarão nas revendas agora em setembro
como modelo 2004. A Suzuki também já anunciou a produção da sua RM-Z 450
F para o ano que vem (Box
1: clique aqui e veja mais detalhes).

Elton Becker, cat. 125cc |

Pablo Ristov, cat. Força Livre Especial |
É ruído mesmo ou é birra?
Mas o que isso
tem a ver com o Campeonato Catarinense de Motocross? Tudo. A sexta etapa
do estadual disputada no último final de semana de agosto, dias 30 e 31,
entrou para a história do motociclismo de Santa Catarina como a primeira
prova realizada sob a tutela da justiça e dos órgãos ambientais. O Motódromo
Jackson Wilson Voss, administrado pelo Motoclube Vorstad, de Blumenau,
localizado na margem esquerda do rio Itajaí-açu, ficou por 18 meses com
sua utilização embargada, inicialmente por um suposto crime ambiental
devido o local estar compreendido dentro da área de preservação permanente,
mas alimentada com uma denúncia de poluição sonora.
Quando entraram
as motos para a bateria da classe Força Livre Especial, as Yamaha 4T de
Marcos Cordeiro e Pablo Ristow foram facilmente as que sobressaíam no
quesito ronco! E aí. Não são essas as motos que devem atender a legislação
ambiental? Exatamente. Quando se trata de circuitos fechados, o regulamento
da Confederação Brasileira de Motociclismo - CBM, baseado no da Federação
Internacional - FIM, o nível máximo de ruído permitido para cada motocicleta
é de 98 db/A na medição feita com o instrumento a 50 cm da ponteira de
escapamento, sendo que o ruído ambiental não deve exceder 90 dB/A em um
raio de 5 metros da fonte durante os testes.
Em Blumenau,
a denúncia feita ao Ministério Público no primeiro trimestre do ano passado
é baseada no excesso de ruído na casa do reclamante que fica na margem
oposta do rio Itajaí-açu, a cerca de 100 metros de distância. A coincidência
maior é que nas categorias Força Livre, 125cc, 80cc e 60cc, as mesmas
motos que venceram nesta sexta etapa do estadual são dos pilotos catarinenses
de melhor desempenho do campeonato brasileiro, sendo que Milton "Chumbinho"
e Anderson Cidade já conquistam por antecipação o título da temporada
respectivamente na 125cc e 60cc. Será que tais pilotos usariam suas motos
fora do regulamento?

Jhonatan Batista #21 e Cristopher Castro #6, cat. 125cc |

João Marronzinho Jr. #11 e Marcos Cordeiro #16,
cat. Força Livre Especial |

João Marronzinho Jr., cat. Força Livre
Especial |

Aristeu Cattoni #103, Leo Lopes #666 e
Claiton Detoni #349, cat. Master |
De acordo com
Max Baehr, vice-presidente do Motoclube Vorstad, foi realizada uma pesquisa
com os moradores da região próxima à pista, num raio de aproximadamente
400 metros. No placar 90 assinaturas a favor da reabertura do motódromo
e duas assinaturas contra. De quem as duas? Do reclamante e de seu vizinho.
Com a etapa
marcada e tudo pronto para receber os 121 pilotos que participaram da
prova, na quinta-feira (28) anterior a competição foi feito um acordo
entre o Ministério Público, a Fundação do Meio Ambiente do Estado de Santa
Catarina - FATMA e o motoclube. Na reunião a promotora de justiça da Comarca
de Blumenau, Maristela do Nascimento Indalêncio, permitiu a realização
do evento, porém solicitou ao coordenador regional do Vale do Itajaí,
Júlio César Coelho, representante da FATMA, que a prova fosse utilizada
para novas medições, sendo estas realizadas no sábado e no domingo, tanto
no motódromo quanto na casa do reclamante.
Com a prova
feita diante de mais de três mil pessoas, o sucesso do evento foi indiscutível.
Quanto ao futuro do motódromo, resta esperar. O laudo da FATMA com as
medições deve ser divulgado até o dia 10 desse mês.
As baterias
Por conta do
traçado com retas curtas e das condições do piso compactado que não permitia
que os pilotos desenvolvessem muita velocidade, as diferenças entre eles
foi minimizada. Quem ganhou com isso foi o público que pode acompanhar
disputas quentes em todas as nove categorias, seja por terem os pilotos
mais rápidos, por terem representantes da casa brigando pela vitória ou
por apresentarem um equilíbrio tal que o vencedor acabou sendo decidido
somente na quadriculada. O tempo bom também foi fundamental para o sucesso
do evento. "Já está se tornando uma tradição nas provas de Blumenau chover
um pouco no sábado e ter sol no domingo. Tenho certeza que isso tem as
mãos do meu filho, o Jackson, que deve estar lá em cima, sentado ao lado
de São Pedro, controlando a irrigação da pista", lembrou com carinho Wilson
Voss, citando o seu filho que era praticante e aficionado pelo motociclismo.
Na 125cc os irmãos
Milton "Chumbinho" e Elton Becker assumiram a dianteira da bateria logo
na primeira volta e assim se mantiveram até a quadriculada, quando saltaram
juntos. "Vou ligar para a mãe reclamando! O Chumbo largou na frente e fugiu
de min. Só me esperou para cruzar a linha de chegada!", brincou Elton. As
brigas aconteceram pela terceira colocação em diante, posto ocupado por
Jhonatan Batista que teve como principal adversário a forte dor no ombro
esquerdo, resultado de uma queda sofrida

César Popinhak, cat. Júnior |
durante o warm-up quando ele atingiu um bandeirinha que cruzava a pista
na recepção do salto da chegada. Cristopher Castro, o Pipo, mandou bem e
terminou com o quarto lugar, na frente de Luiz Zimermann - que relembrou
os tempos em que corria de Kawasaki 125cc, e de Leandro Smakovicz, colocação
que lhe custou a perda da vice-liderança do certame para Jhonatan.
Chumbo ainda
voltou para a última bateria da tarde, a da Força Livre Especial. O líder
da categoria, João Marronzinho, também sofreu uma queda durante o warm-up,
segundos antes do acidente do Jhonatan. De acordo com o pai do piloto,
João da Silva, o Sr. Marron, que é o mecânico da equipe, a moto teve um
problema de superaquecimento no freio traseiro (Box
2: clique aqui e veja mais detalhes). No final da reta
da largada Marronzinho acionou o pedal de freio, mas o sistema não funcionou
e então ele não venceu a curva, batendo os joelhos contra a cerca de isolamento
da pista.

Largada categoria 80cc |

Douglas Ricardo, cat. 80cc |
Para agüentar
a dor Marronzinho largou sob efeito de analgésico. Na segunda volta ele
superou o principal adversário Marcos Cordeiro e disparou na liderança,
imprimindo um ritmo forte até os 10 minutos da prova quando começou a
sentir novamente a pancada nos joelhos e talvez por conta do medicamento,
o travamento dos braços, disse. Ainda na segunda volta Chumbinho assumiu
a vice-liderança com um erro de Cordeiro que também perdeu tempo para
fazer seu motor funcionar, caindo para a sexta colocação e tendo que partir
para uma prova de recuperação. Pablo Ristow se manteve na terceira colocação
até sofrer um dos tombos mais cinematográficos da etapa, no final da sessão
de costelas. Por sorte, nada de grave para o piloto da casa.
Marron abriu
a volta final com Chumbo na sua cola. Faltando três curvas para a chegada
o vencedor da 125cc tentou o bote decisivo, mas sem êxito. "Como eu estava
com a 125cc não adiantava tentar em qualquer lugar que a potência da moto
do Marron não deixaria passar. Preparei um ataque numa curva onde eu poderia
dar um "X" para supera-lo. Não deu certo, mas tudo bem. Vencemos na categoria
que interessa a equipe, pois estamos liderando o campeonato e agora com
mais vantagem", disse Chumbinho Becker.

Largada categoria 60cc |

Lucas Cattoni, cat. 60cc |
Para o piloto
da equipe Honda Dorvalino/PMX/ Laguna Motos/Riffel a vitória serviu para
compensar a dor. "No início da tarde eu nem estava querendo largar. Meu
pai insistiu e meu deu algumas dicas de como proceder na pista, como os
lugares onde poderia descansar e outros que deveria acelerar para valer.
Felizmente deu certo e agora abrimos 12 pontos de vantagem na liderança
da classificação geral", falou Marrozinho. Cordeiro, vice-líder do certame,
terminou a prova na terceira colocação.

Anderson Cidade, cat. 60cc |

Gabriel Gentil, cat. 60cc |

Largada categoria 50cc |

Daniel Bardini #4 e Alceu Romão #200,
cat. Força Livre Nacional |

Edson "Halley" da Silva, cat. 180cc |
Na categoria
Máster o joinvilense Aristeu Cattoni conquistou a sua primeira vitória
da temporada após um duelo com o gaúcho Léo Lopes. Como essa categoria
é tradicionalmente a primeira da tarde a largar, a irrigação feita no
intervalo do almoço pegou os pilotos de jeito. Logo na segunda volta Cattoni
aproveitou um vacilo de Lopes e Claiton Dettoni que lideravam e assumiu
a dianteira do pelotão para não mais perde-la. Lopes tentou volta a volta
mas não teve sucesso. "Deixei para tentar ultrapassar nas voltas finais,
mas aí não deu", relatou o convidado.
Na Júnior foi
a vez de César Popinhak vencer, também pela primeira vez. A bateria começou
forte, sendo que a vitória de Popinhak passou a ser construída a partir
do choque entre Felipe Mallon e Vandrigo Fabris, no qual esse último levou
a pior. Destaque para o piloto da equipe Zen-Motos Husqvarna, Tiago Hort.
O garoto veio de trás e ajudado pela torcida organizada foi passando os
adversários até encostar em Mallon, segundo colocado. Mas como já é sabido
que numa pista estreita chegar é uma coisa e passar é outra, Hort botou
de lado para tentar passar, mas forçou na frenagem e caiu. Mesmo assim
Hort ficou com o terceiro lugar.
Cristopher Castro
obteve a sua quinta vitória do ano na 80cc, assim como Anderson Cidade
que compete na classe 60cc. Interessante observar nessas categorias que
o ritmo imposto por eles, juntamente com César Popinhak e Douglas Ricardo
na 80cc, e de Gabriel Gentil e Lucas Cattoni na 60cc, têm puxado o ritmo
dos demais pilotos, provocando e forçando ainda mais a renovação. Maicon
Kraemer, Diogo da Silva, Samuel Machado, Luiz Marian, Coronel Jr., Diego
Paranhos, dentre outros, são alguns dos exemplos de que qualquer bobeira
dos ponteiros, eles aproveitam e sobem nos lugares mais altos do pódio.
Na categoria
destinada as minimotos 50cc, tudo igual novamente no duelo entre Marcos
Holtmann e Diogo Scariot. Desde o início da temporada os dois se revezam
na primeira e segunda colocações. Dessa vez a vitória foi de Holtmann
e o choro de Scariot. Na classificação 135 pontos para cada. O mais novo
dos Cattoni, o Gabriel, ficou com o terceiro lugar.
Nas duas categorias
destinadas as motos nacionais os líderes do certame não tiveram sucesso.
Não Força Livre Nacional o piloto Pablo Sott perdeu sua invencibilidade
ao escorregar na primeira volta e ficar preso embaixo da moto. Na queda
vazou parte da água do radiador e ao retornar a prova Sott sentiu que
não poderia recuperar e procurou então concluir a corrida, terminando
em 13º. O vencedor foi Daniel Bardini que superou Alceu Romão na
última volta, seguido do piloto da casa Edson da Silva. Na Nacional 180cc,
Edson que foi campeão dessa categoria no ano passado, e agora em 2003
só havia participado da segunda etapa, venceu com certa folga. Na disputa
da classificação geral, melhor para Ivan Sardagna, que com a segunda colocação
na etapa ficou com apenas dois a menos que Mirko dos Santos, líder do
certame.
A próxima etapa
do catarinense de motocross está marcada para os dias 20 e 21 de setembro,
em Tubarão, na pista de Sertão dos Corrêas. A FCM prevê mais quatro provas
para a temporada 2003.
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